quarta-feira, junho 07, 2006

A arte de fingir interesse

Se há coisa de que me orgulho de fazer bem, é de ser um mestre em fingir-me interessado nas conversas com que nem o Papa se rala. Por isso decidi dar aqui umas dicas para todos aqueles que ainda não aperfeiçoaram esta actividade, muito útil no local de trabalho, aulas ou mesmo entre amigos.
Obviamente, dependendo do teor da conversa, reage-se de forma diferente. Se a pessoa está a contar algo que é suposto ter piada, nunca é cedo para começar a guardar potência na gargalhada. Enquanto ela está a falar é imperativo que nós, o fingidor profissional, comecemos a pensar em coisas que não têm absolutamente nada a ver com a conversa. Aquele programa na TV que a achámos muita piada, aquela situação estúpida, etc.
Também ajuda pensar:
"Este(a) tipo(a) não faz a mínima ideia de que me estou a cagar para o que está a dizer."
Se, por outro lado, a conversa for alguma desgraça que aconteceu ao primo do tio do avô da vizinha do terceiro esquerdo do prédio do amigo, temos de tomar outras medidas. Não pensem em nada que possa causar riso, pensem antes em coisas do género:
"F*da-se, mas quando é que este(a) se cala? Nunca mais chego a casa". Trânsito, ordenado, arroz de pato, ajuda tudo a ficar deprimido. É também muito importante franzir os olhos e fazer o comentário "Xi!" e "Eh!" ocasionalmente para parecermos realmente interessados.
Seja qual for o conteúdo da conversa é crucial memorizar alguns nomes ou datas e usá-los em mini-frases para dar ainda mais veracidade à coisa. Exemplo:
Pessoa Chata: "... e depois o primo do Tiago, o João, foi ao..."
Interrompe-se a conversa com:
Fingidor: "O João é o primo do Tiago?"

Um aspecto que ajuda à concentração é o de pensar no que se tem de fazer mais logo / amanhã / esta semana, enquanto a pessoa fala.
E pronto, depois do chato se ir embora, basta apagar qualquer vestígio do que ele disse da nossa memória e estamos prontos para outra.
Espero que estas dicas básicas vos ajudem no dia-a-dia.

P.S. Odeio arroz de pato.

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